quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

NENHUM POEMA É UM PRATO FEITO

Nenhum poema é
um prato feito
ou cheio
antes de ser escrito.

É um prato vazio
para colocar dentro
salada de palavras
versos com azeite
e alguma carne
temperada.

O poema só será prato cheio
depois de escrito e lido
digerido ou não digerido.

Por mais indigesto que seja o poema
deve ser degustado
como se degusta
um peixe
uma fruta
um queijo brie
ou uma feijoada.

Não se deve devorar o poema
sem mastigá-lo
e percebê-lo
em toda a sua orgânica
natureza
de ser vivo
que é capaz de resistir
principalmente
a quem tem mais fome
e sede
de poesia.
Os que passam pelo poema
como se fosse um desconhecido
continuarão com o prato vazio
e nunca preencherão os seus sentidos
com as vozes do poema
líquidas e sólidas
os vapores que nascem dele
e se dispersam no ar
como aromas insondáveis
e perenes.
Cada leitor tecerá o poema escrito
a partir de seu próprio tato, olfato
e capacidade de ouvir o seu som
lá no fundo da terra
e nas profundezas do universo.

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