quarta-feira, 30 de março de 2011

O Relógio



Sem ponteiros
respira
sem rumo
e sem horas.


Marcador da foto: www.blogdodiscipulado.blogspot.com

segunda-feira, 28 de março de 2011

ESTAR SÓ

Estar só em uma rua em Nova York
é diferente de estar só em um quarto escuro.

Estar só em uma rua em Paris
é diferente de estar só em um restaurante abarrotado de gente.

Estar só, por mais variações que existam,
está fundado
no isolamento
momentâneo
ou permanente.

Estar só em uma rua da periferia de Londres
às três horas da manhã
é diferente de estar só em uma rua da periferia de São Paulo
às três horas da manhã,
mas da mesma forma é possível
ser assaltado nos dois locais,
com desfecho imprevisível
em ambos os casos.
Se houver reação por parte da vítima,
independente de ela estar em Londres ou São Paulo,
o risco é imenso.
E como ela está sozinha
não há a quem recorrer.
A não ser que passe uma viatura policial
naquele exato momento.
Aí tudo pode acontecer.
Inclusive o policial errar o alvo
e acertar a vítima
como já aconteceu outras vezes
tanto em Londres quanto em São Paulo.

sábado, 19 de março de 2011

O QUE INVENTO?

O que invento?
O que não invento?
O que inventamos
com os nossos pensamentos?
Inventamos ideias malucas
palavras
que nem aparecem na boca
com vergonha de sua estranheza.
Inventamos novas sensações.
Inventamos medos, fantasmas,
imagens de telas
que nunca pintaremos.
Mas inventamos
sem registar
para sempre
em um tecido
ou em pedaço de madeira
criações
que vêm lá de dentro
inexplicáveis
mas palpáveis
pelo menos por alguns segundos
mínimos
que nos deixam inquietos
e mais vivos do que de costume.

ACARICIAR OS NÚMEROS

Acariciar os números
para tanter decifrá-los.
Nada de mantê-los a distância.
Ter com os números
uam relação próxima
uma espécie de conversa.
Não só necesitamos das palavras.
Os números também são referências.
Com eles nos situamos
nos dias
nos meses
nos anos
e na soma e na subtração
de momentos
que se acumulam
e dos que se perdem
na penumbra.
Os números
no fundo nos escolhem
por uma estranha conformação
que faz deles seres
especiais
enigmáticos
e poderosos
na sua casa numérica
lotada de números
e de variações
que nos deixam perdidos
e enfeitiçados
por tantos números
que entram e saem
das nossas vidas
a cada minuto.

ESCREVO AGORA ESTE POEMA

Escrevo agora este poema.
Por que não escrevo amanhã este poema?
Porque estou escrevendo agora.
Se é agora que escrevo,
por que pensar no ontem e no amanhã?
Agora é que eu sinto
as minhas mãos vibrando nas teclas
é agora que a minha mente se move
na direção destas palavras.
É agora.
Cada poema tem um momento para nascer.
Este é o momento
deste poema que planto
neste vaso de palavras.
Não poderá ser feito depois
porque é no agora que ele está sendo plasmado.
Nada de pensá-lo
para uma outra data remota.
O seu nascimento é nesse minuto
ou segundo
em um tempo
em que ocorrem todasa as coisas.
É sempre no presente
que se dá o nascimento
da vida
dos poemas
dos amores
das invenções
das descobertas
e também das frustrações
e dos acasos.

O NOME DELA É NADA

O nome dela é Nada
mas os seus olhos têm uma luz de intensidade
brilhante
de pegar nos meus olhos
e penetrar na minha retina
como se não fossem mais me deixar.

O nome dela é Nada
e ela simboliza
algo que não sei dizer
mas sinto.

O nome dela é Nada
e quando a vejo
percebo
um universo inteiro dentro de mim
querendo se transformar
em mil outros universos
como se o infinito
pudesse ser pego com os dedos
na forma de um pássaro miúdo
ou uma rosa
no seu primeiro dia de vida
aberta
nas suas mãos.

sexta-feira, 18 de março de 2011

NO SONHO ELA ACORDA

No sonho ela acorda.
Dentro do sono enclausurada
não encontra a porta de saída.
Presa entre sombras
ruas
labirintos
pontes quebradas
e espelhos
ela se procura
e só vê fragmentos
de si mesma
dispostos em todos os ângulos do espaço.

quarta-feira, 16 de março de 2011

O MUNDO OLHA PARA O JAPÃO

O mundo olha
aterrorizado
para o Japão.

Os japoneses
expostos à radiação
pedem socorro
em silêncio.

Gritam por dentro
clamando por um milagre.

Enquanto isso o imperador Hirohito
pede calma.

Falta comida,
falta luz,
falta quase tudo
no país
que até a semana passada
era a terceira maior economia do mundo.

Enquanto os japoneses
esperam
esperam
esperam
a usina de Fukushima
com a explosão dos seus reatores
libera na atmosfera
radiatividade.

Triste Japão.
Pobre Japão.
Depois de Hiroshima e Nagasaki
nunca poderiam ter instalado lá
usinas nucleares.

O pesadelo retorna
com uma nova e terrível configuração.

Os japoneses querem acordar
mas vão sentindo cada vez mais
a extensão do pesadelo
que parece que não irá terminar nunca.