domingo, 28 de fevereiro de 2010

O FURO

O furo que apareceu no meio da sala
de uns dez centímetros de diâmetro
atraiu os vizinhos
amigos
parentes
e até um ladrão
que, assustado,
fugiu correndo
por não saber lidar
com o incrível.

A TORNEIRA

Diante da torneira aberta
o homem
lava mágoas antigas
que não param de escorrer
do seu corpo
e dos seus pensamentos.

O INVASOR

O toque invasivo
do despertador
invadiu a narrativa
onírica
do sonhador
e assassinou
a história
no clímax.

INSTANTE

Mínimo
intenso
máximo

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O PORTO

O navio não aportou hoje.
Amanhã quem sabe.

ENTRELAÇAMENTO

O entrelaçamento
das palavras no poema

O entrelaçamento
das palavras na boca

O entrelaçamento
das palavras no vento

depois de uma tempestade
de ideias
que saem do corpo falante
como explosões
de pequenos dizeres
que acumulados
representam
um agudo discurso
que atravessa paredes e muros
sem cessar o seu eco.

O LIMITE

Rompeu todos os limites
e chegou ao não-limite
ao vazio sem delimitação
sem marcas
sem traços
e deu um grito de liberdade
que não foi ouvido por ninguém
porque havia afastado todas as pessoas
na grande ruptura
que representou
um romper-se consigo mesmo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A CASA EM RUÍNAS

Passei agora
por uma casa em ruínas
que está
sendo demolida há mais de um ano
numa tortura que não termina.
Parece pedir clemência
eutanásia
não suporta mais essa
cruel
exposição.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

LEITURAS

Leu livros
pinturas
esculturas
instalações
rios
mares
montanhas
pessoas na rua
instantes
medos interiores
propagandas enganosas
mentiras de políticos
frases jogadas ao ar
de bocas variadas.

Leu e entendeu
de muitas maneiras
a sua existência
múltipla
e única
estranha
e extraordinária
que o fiz rir da maneira mais livre
que se pode ter
para expressar
o encantamento
diante do inexplicável.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

INSTANTES

instantes
a rapidez do tempo sorvido
não esquecer do microssegundo
nem do microminuto.

Das frações mínimas
do um
chegar
à nanoemoção
que pode acender e queimar
mais
do que convivências
de décadas
que não esquentam
quase nada.

CULPA

Nasceu culpado.
Culpado de quê?
Carregou a culpa
como um fardo pesado
que o consumiu
a vida inteira.

MARES INTERIORES

mares interiores
ondas de pesadelos
e de palavras
mares integrando-se a rios
de água congelada.

mares estranhos extremos
densos
como nadar nesses mares?
os navios emborcados
à deriva
de repente
redescobrem a rota perdida
e retomam
a navegação
dentro
da tempestade.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

UNIVERSOS

Universos
unem versos
um verso
é um milhão de universos.

Versar
sobre os versos
versejar
ver
vicejar
os versos
e os universos
em múltiplas versões.
Universo.
Um único verso.

O CUBO


Fonte: Dzeni
www.dzeni.blogspot.com


O cubo guarda todas as palavras
em todas as línguas
inclusive as extintas.

O cubo guarda poemas
todos os poemas
escritos até hoje.

O cubo é a grande casa
do mundo.

O cubo revela.
O cubo esconde.
O cubo desafia
a nossa imaginação
a pesquisá-lo
até não haver nada a encontrar.

Mas como descobrir tudo
se o cubo é infinito?