domingo, 18 de novembro de 2012

Lúcida voz

Lúcida voz interior
que nos convoca
a dizer a nós mesmos
o que muitas vezes
emudecemos
por medo da resposta
que a outra parte nossa
possa dar
e não nos agradar.

GRAFITE



Quero fazer um grafite
bem colorido
nos meus pensamentos.
Nada de pichação
de pensamentos perturbando a mente
como se fossem um disco
velho e desafinado,
repetindo os mesmos ruídos.

Um grafite
abstrato
formas
incríveis
mágicas
para liberar
fantasmas
guardados
nos velhos porões
e que já perderam
a razão de ser
há muito tempo.

CAVERNAS

cavernas
múltiplas
de vozes
remotas

ancestrais
povoam
a nossa não memória
a memória oculta
aquela que nunca se abre
ou talvez se abra um dia
magicamente
com portas
completamente
impensáveis
inimagináveis
impossíveis.
Impossível 
é uma palavra
que aguça a nossa
vontade
de alcançá-lo.

O Alvoroço


Alvoroço
essa palavra que me roça a pele
que me faz carinho
que me mobiliza rumo
às sensações mais variadas e ricas.
Alvoroço de alma
alvoroço de ser e do ser.
Sem me alvoroçar
caio na tinta descolorida do tédio
e me afogo
sem afago
em uma ilha completamente vazia
de vida e de paixão.

sábado, 30 de junho de 2012

NO FACE

Todos querem saber:
-Você está no Face?
Que assombro.
Agora que entrei pra valer
percebo
que o mundo real
se mudou para o Facebook.
Amigos distantes
colegas de fases remotas
todos estão no Face
conectados
ligados nessa rede
imensa
extensa
que só se multiplica.
O Face é um mundo paralelo
a outra dimensão
o estar em um universo virtual.
Virtual ou real?
O que é virtual?
O que é real?
Confesso que já não sei.

domingo, 25 de março de 2012

Elegia a Antonio Tabucchi no dia da sua morte

Não sei o exato momento da morte.
Nem o inexato.
Não sei da morte nem uma sombra
Nem uma fagulha de luz
Na cratera mais escura e secreta.
Não sei da morte o que ela fez comigo.
Afinal, foi hoje,
Apesar que toda contagem de tempo
É imprecisa
Estejamos mortos ou vivos.
Não sei se estou morto ou vivo.
Nunca soube muita coisa.
Nem antes nem agora.
O que é agora?
A tarde avança sobre os meus olhos
E sinto uma solidão estrelada
Como luzes de um dia que ainda sequer
Se anunciou.
Ou será noite?
É muita confusão para um tempo só.
Por ora,
Adormeço.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A FERA

A fera adormecida na sala
parece um gato
em paz com o mundo e os seus sonhos.

A fera adormecida na sala
não demonstra a menor ferocidade.

A fera adormecida na sala
na verdade não está na sala
mas repousa dentro de nós
em algum porão esquecida.

A fera adormecida na sala
passa anos hibernada
mas a qualquer momento pode acordar.
E quando isso acontecer
não dá para prever os estragos que fará.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Quando eu escrevo

Quando eu escrevo
nem sempre as palavras brotam.
Muitas ficam presas às pedras
ou incrustadas na terra
resistindo às minhas tentativas
de buscá-las
e trazê-las até mim
no poema
que quer nascer
mas necessita das palavras
para vir ao mundo
da linguagem
e da trama extensa
dos versos
que se ligam a outros versos
num tear
que não cessa nunca.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

ÁSPERA ESPERA

Toda espera é áspera
porque não prospera.

Fica-se encarcerado
durante horas
dias
meses
anos
ruminando
a ausência
do que vai ser
ou não ser.
A espera
quando não termina
gruda na pele
como um bicho
asqueroso
e devorador
que suga
a vida e a paciência
de quem espera.

O LIVRO NÃO LIDO

O leitor de milhares de livros
durante toda a sua vida
encontrou um livro
impossível de se ler
em um banco de jardim.

Era um livro indecifrável
com hieroglifos
e desenhos incompreensíveis.
Tão secreto que passou
a se revelar
a partir do momento
em que o leitor persistente
começou a tateá-lo
sem tentar compreendê-lo.
O livro aparentemente instransponível
abriu-se aos sentidos
daquele que também se abriu
para percebê-lo.

PERDI O ENDEREÇO

Perdi o endereço.
Estou nesta cidade gigantesca
com celular
Ipad
todos os recursos da comunicação,
mas não tenho a quem perguntar.
Perdi o endereço.
O meu endereço.
Aquele que me identifica
e me situa no mundo
e em mim mesmo.

DE QUEM É A CULPA?

De quem é a culpa?
A pergunta foi feita aos presentes.
Todos se olharam procurando o culpado,
mas ninguém se apresentou.

O ARQUITETO INTERIOR

Arquitetou milhares
de casas
dentro de si
cidades
vilas
templos
castelos
porões
muros
e se perdeu neles
l a b i r i n t i c a m e n t e.

INDOMESTICÁVEL

Sou palavra indomesticável.
Não é selvagem o tigre,
mas o homem.

O CORREDOR

Com oitenta anos,
ele corre todos os dias
pelo menos uma hora
e se sente realizado.

No percurso
ele se imagina correndo
na São Silvestre e ultrapassando
quenianos e etíopes.
Ele corre na realidade
e na imaginação
e nessa corrida dupla
mágica
há só prazer
e nenhuma colisão.

domingo, 1 de janeiro de 2012

NADA DE ENTULHOS

Entulhos do pensamento
acumulados em 2011
preenchem mil contêineres.

Em 2012,
quero só leveza,
nanopensamentos,
nada de acumular
lixos irrecicláveis
que contaminam o cérebro
e fazem muito mal ao espírito.