domingo, 18 de julho de 2010

DEIXE O POEMA NASCER

Deixe o poema nascer
não o prenda
não o amarre
em uma teia de morte.

Deixe o poema dizer
o que ele quer dizer
sem manipular a sua fala
e o seu ser
necessitado
de espaços
poéticos
de dizeres
multifacetados.

Deixe o poema viver.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

MORTO NA SALA DE AULA




Menino de 11 anos
morreu fuzilado
na sala de aula
no subúrbio do Rio
enquanto escrevia
a lápis no caderno
a lição
da lousa.

Na guerra da polícia
contra bandido
morreu menino
que queria
melhorar de vida.

Bala perdida.
Quem acha o fim
dessa história
que não tem fim?

Crianças morrendo
na periferia
do Rio
de Salvador
de Recife
de Fortaleza
dessa doença
chamada bala perdida.

Quem é o bandido?

Foi quem atirou
ou quem deixou
a violência
crescer tanto
e sufocar a vida
o futuro
do menino de 11 anos
que estava com um lápis na mão
copiando a lição?

Quando vamos aprender a lição
da civilização?

Quantas crianças vão ainda morrer
dessa doença que já ficou banal : bala perdida?

POBRE PAÍS



Pobre país
atado
a um jogo político
amarrado
sem novidades
e sem ideias.

Pobre país.
Quem dá o tom
não é nenhum músico
da MPB
mas tocadores
de mentiras
soprando lorotas
para conquistar
os nossos votos.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O AZUL E O AMARELO


Fonte da foto:sentadonomocho.wordpress.com/.../


O azul e o amarelo.

É o azul no amarelo
ou o amarelo no azul?

As cores se interpenetram
dialogam no espaço
dançam a dança cromática
de céu e flor
de flor e céu
na paisagem vibrante
que penetra na retina
e nos ilumina.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

POEMA EXPRESSO

Um trem na palavra
saiu dos trilhos do verso
e do verbo
despencou
numa ribanceira
ferindo a poesia
sem gravidade.

terça-feira, 13 de julho de 2010

PAULO MOURA



Os clarins
as trombetas
e as clarinetas
do infinito
abrem
corredores sonoros
para a passagem
de Paulo Moura
que irá tocar a alma
dos anjos
com a sua doçura
sonante
e eterna.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A BOLA, NÃO O TOURO




Para a Ivana Maria França de Negri

Matar a bola no peito
controlá-la com os pés
e lançá-la à rede
não matar o touro
por farra
ou tradição.

Que as novas gerações
na Espanha
gritem olé
para o seu time e a seleção campeã
não para o toureiro
que com a sua espada certeira
sangra o touro
e põe fim
à vida de quem não foi consultado
se queria
ser protagonista
e vítima
desse sádico e mórbido ritual
sem beleza nenhuma.

A morte do touro
é o avesso do gol.

domingo, 11 de julho de 2010

ESPANHA CAMPEÃ

A Espanha
fez um gol único
que lhe valeu o primeiro título
mundial da história.

Não foi um gol pintado
por Miró
ou Picasso
nem se parece com um poema
de García Lorca
mas foi o gol que ficará
impresso na tela eterna do futebol,
assinado por Iniesta,
um dos muitos
craques espanhóis
que quebraram um jejum
de 80 anos.
Agora estão saciados
com o banquete
do futebol
regado a um bom vinho espanhol.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

POEMA SOBRE O NAUFRÁGIO DE UMA PALAVRA NO OCEANO MINERAL

mar mineral
sugou aquela palavra
que nasceu
em região abissal.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

RUÍNAS

Ruínas do dizer
a palestra não começa
a plateia em alvoroço
desiste de esperar
o palestrante
que sem ter o que dizer
aparece só para olhar
todos indo embora
sem olhar para ele
imerso na sua solidão
arruinado em meio
às palavras que voaram.

O POETA MUDO

O poeta mudo
diante do poema que não sai
ensaia um grito
um bocejo
uma gargalhada
mas fica só no espanto
de não conseguir
dizer
escrever nada.

SE A PALAVRA

Se a palavra
perder o seu poder
de dizer

será como uma caneta
cuja tinta escapou

terça-feira, 6 de julho de 2010

APELO 7

Não durma com o celular embaixo do travesseiro
nem abraçado nele
como se fosse um ursinho de pelúcia.

Prefira os ursinhos
que não tocam na hora errada
nem enviam torpedos
com mensagens indesejáveis.

APELO 6

Não sofra pela seleção
como se perder uma Copa
fosse uma tragédia
capaz de deixá-lo
doente e mal-humorado.

Não caia nessa história
de que o Brasil é o único país
que merece ser campeão.

Você é só um torcedor.
Se você chutou o cachorro ou o gato
depois que o Brasil perdeu da Holanda
e foi eliminado
peça desculpas para eles
que não têm culpa
do seu fanatismo
irracional
e sem sentido.

Enquanto você berrava
desesperado
eles dormiam
e nem imaginavam
que você estava
se esgoelando
por tão pouco.

APELO 5

Não coma feijoada à meia-noite
por melhor digestão
que você tenha.

Não teste o seu estômago
para ver se ele resiste.

Ele pode não gostar da ideia
e reagir não digerindo
a bomba que você lança nele
em hora errada
sem pedir licença.

APELO 4

Atravesse a rua
só na faixa de pedestres.
Nada de se aventurar
no meio dos carros
como se você fosse um herói blindado.
Não se atreva
a atravessar na frente de um carro-forte
mesmo que você acredite
que ele irá frear
e salvá-lo de um atropelamento
porque você é um cara legal
tem ficha limpa
e é de boa família.

APELO 3

Não tome banho de sol
ao meio-dia
mesmo que você esteja usando
protetor solar 50.

Não tome banho de sol
com a ilusão de que você
irá ficar atraente
com aquela cor de tomate
e a pele parecendo um torresmo.

APELO 2

Não coma maionese
em festa de casamento
mesmo que você conheça o bufê
desde criancinha.

Pior ainda,
se você for o noivo ou a noiva.
Maionese pode estragar a lua de mel
e até o casamento
já no dia seguinte.

APELO 1

Não suba os degraus
de olhos fechados
mesmo que você se considere
um atleta radical.

Não desça os degraus
de olhos fechados.
Nunca se sabe
a dimensão do tombo
e quantos membros
e outras partes suas
serão danificados.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

POEMA NA FILA

Na fila do banco
o poema
não se irrita.

Permanece observando
a angústia das pessoas
o desconforto
a demora
e na hora de ser atendido
desiste
porque não tem conta bancária
cartão de crédito
ou de débito
e estava ali só para ter a certeza
que o seu mundo não é aquele.

POEMA NA ESQUINA

Um carro
em alta velocidade
perdeu a direção
e entrou em uma loja
cheia de roupas
e sem nenhum cliente.
Quase o poema foi atropelado.
Se não fosse o quase,
pensa o poema,
quase ninguém mais estaria vivo.

POEMA NO BUEIRO

Que lugar mais sujo, pensa o poema.
E cheio de ratos
Fios
labirintos.
O que eu vim fazer aqui?, ele se pergunta.
De repente
ouve uma explosão.
O poema encontra uma saída
e ainda assustado
e chamuscado
retorna aliviado à superfície.

POEMA NA GALERIA

O poema se diverte
com uma instalação interativa.
Entra e sai dela
sem parar.
Toca nos objetos
que pedem para ser tocados.
O poema se sente
dentro de um parque de diversões
e descobre que gosta
desse tipo de arte.

POEMA NO SHOPPING

O poema
não sabe
se come fritas
ou hambúrguer.

O poema arrisca uma coca-cola
depois fica arrotando
sem parar
e percebe
que esse lugar não é para ele.
Que não há poesia nenhuma
nesse ambiente
estranho
e encaixotado.

POEMA NA VIDRAÇA

O poema foi atingido
por uma pedra
na vidraça.

Ele foi até a janela
para observar a rua.
Não esperava
uma recepção tão violenta.

Em pedaços
o poema tenta se recompor
no chão
reconstruindo
os seus cacos
com uma cola
que trazia no bolso
para as emergências.

POEMA NA ESCADA

O poema sobe a escada
mas não sabe aonde dará
essa escada interminável.
No centésimo degrau
ele desiste
e começa a descer
sem entender
aonde leva a escada.

POEMA NO MURO

O poema quase morreu
eletrocutado
por uma cerca elétrica.

O poema é mais frágil do que um gato
ou um passarinho.

O poema não conhece nada
de cercas elétricas.

POEMA NA RUA

O poema está na rua
tentando conversar
com quem encontra
no caminho.

Não consegue o seu intento.
Todos estão muito apressados
para perceber um pobre poema
pedestre da palavra
insignificante
para quem passa correndo
procurando a vida
onde ela não está.

POEMA NO ESPELHO

Qual é o avesso do verso?
No espelho o poema
se vê por dentro
e se espanta
com a sua imagem
exposta
ao mesmo tempo tão verdadeira
e tão falsa.

POEMA NO ESCURO

O poema não tem medo do escuro.
É na escuridão
que se desnuda
e se descobre
aberto
a todos os sentidos.

POEMA NA ÁGUA

Versos embebidos
pela água que escorre.

Versos molhados.

Versos líquidos.

O poema gosta de lavar-se
e de buscar
nas gotas das palavras
rumos novos
para correr
como rio ou fonte
de dizer e de ser
o poema impermanente
mutável
mutante
explorando
as vozes múltiplas
do verso que não seca nunca.

domingo, 4 de julho de 2010

MORREU O POETA ROBERTO PIVA

O poeta mais paulistano morreu.
O poeta cosmopolita morreu.
O poeta marginal morreu.
Roberto Piva grita os seus poemas
pelas ruas de São Paulo
vivo
apesar de morto.
Ninguém escuta.
O trânsito caótico
a loucura
a pressa vertiginosa
impedem
que Roberto Piva
diga um poema de sua autoria
para lembrar
que a poesia não morre.
Roberto Piva
é um poeta
de ação.
A sua palavra é um manifesto
poético
que não termina.
Roberto Piva morreu.
Quem é Roberto Piva,
pergunta um passageiro
esperando
o próximo trem no metrô.
Chega o trem,
o passageiro entra
e nem se lembra mais da notícia
que voou nos seus ouvidos
como um pássaro fugaz
e etéreo.

sábado, 3 de julho de 2010

TODO INSTANTE

Todo instante resume-se
a um átimo.

Todo instante é mínimo.

Todo instante é

Todo instante
Todo
Tod
To
T
.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

FUTEBOL NÃO É BARALHO




Futebol não é baralho.
Marcar as cartas na mesa
é uma possibilidade
que em campo falha.

No gramado só tem uma bola.
Seja Jabulani ou outro nome.

E não existe vencedor prévio.
Ainda mais em Copa
com 32 seleções
querendo o topo.

O Brasil chegou favorito
e saiu
sem brilho e sem brio.

O hexa foi fantasia dos cartolas,
dos jogadores, da mídia e da torcida.
Não se ganha jogo só no primeiro tempo.
Se futebol se resolvesse em 45 minutos
a história seria outra.

Mas o jogo tem noventa minutos,
fora o tempo de acréscimo,
e a prorrogação se for necessário.

O Brasil entrou na África do Sul
rugindo
leão furioso
e voltou gato pequeno miando baixo
vai precisar de muito treino
para rugir de novo
como pentaleão
querendo ser hexa
daqui a quatro anos
em casa.