domingo, 15 de agosto de 2010

ESPERANDO GODOT DANÇANDO


Em cena: Letícia Leão, Marília Costa e Thais Gimenez.

(Para os integrantes do Projeto Fletir)

Na espera
a imobilidade
a angústia
o torpor.

Na espera o movimento louco
alucinado
choque de corpos
no escuro.

Na espera
de Godot
entramos todos em cena
e dançamos
representando
a nossa dor.

Na espera
improvisamos
nos movemos
em mínimas
danças
dos olhos
da boca
dos braços
das mãos
das pernas
dos pés
até chegarmos
a uma grande revolução
do corpo
sentindo
no seu cerne
que há uma espera
interna
desde o início
de todas as eras.
A espera é infinita.
Mas não precisamos
nos tornar
reféns paralisados
petrificados.

A espera tem muitos ritos.

A espera pode ser circular
ou labiríntica.

A espera é a sua própria vertigem.

sábado, 14 de agosto de 2010

FALTA POESIA NESTE MUNDO

Um carro passa veloz
e joga lama
na mulher que caminha
com um bebê no colo.

Dois homens brigam
porque os espelhos retrovisores
dos seus carros
se tocaram.
Um deles atira,
o outro morre.

Menino de 13 anos
chefia assalto
em uma república de estudantes
no interior de São Paulo
e os submete a socos e chutes.

Passando na minha frente
vejo
um homem em andrajos
e gargalhando
dizendo bem alto, quase gritando:
-Falta poesia neste mundo.
Na sua mão, um livro,
provavelmente de poesia,
bem surrado,
mas ainda vivo e pulsante.

AROMA DE ROMÃ

(Poema de número 400 )

O seu aroma de romã
aciona em mim
outros aromas e outros sabores.
O amor é puro aroma de romã
de morango e de hortelã.
Para cada dia novo
um aroma pronto
para crescer
em nós
amorosamente
sedentos que somos
de mais amor.

NO DESERTO

NO deserto
a mulher
nua na nudez do deserto
contempla
a sua solidão
sem haver
se haverá um oásis
no seu futuro incerto.

RÓTULO

De remédio.
De bebida.
De comportamento.
Prefiro o que não tem nome
e brilha na sombra
iluminado.

NÁUFRAGO

Um naufrágio antigo.
Só hoje per4cebi que estou ainda
sob a água.
Sobrevivi?

SILÊNCIO

Preciso de um grito
para reforçar o silêncio.
Para revitalizá-lo.

BARATA

Ela não tem nenhum medo de barata.
Teme os humanos
e vai enumnerando os seus motivos.

TOCAR PIANO

Ela toca piano
como se estivesse nas nuvens.
Quando morrer,
quer continuar tocando piano nas nuvens,
mas sem piano.